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The Big Parade, 1925

30 abr

Além do relacionamento complicado com Greta Garbo, John Gilbert é conhecido também pelos filmes dramáticos que fez com a atriz, como os belíssimos Flesh and the Devil (1926) e Queen Christina (1933). Mas foi em 1925, com The Big Parade, que Gilbert alcançou a fama, interpretando um papel que não era totalmente desprovido de humor ou de seriedade. Dirigido por King Vidor (indicado ao Oscar de Melhor Diretor cinco vezes e vencedor de um prêmio honorário em 1979), o filme se tornou uma das maiores bilheterias da história do cinema mudo ao apresentar uma mistura inesperada de comédia, romance, suspense e drama.

Ambientado logo no começo da Primeira Guerra Mundial, Gilbert interpreta Jim, um jovem desocupado que se empolga com a onda de patriotismo (em um desfile pela cidade, os recrutas marcham ao som de “Over There”, marchinha composta por George M. Cohan, personagem real interpretado por James Cagney no emocionante Yankee Doodle Dandy, de 1942) e acaba se alistando, para o orgulho da família. Durante o treinamento, faz amizade com dois soldados pitorescos, Slim e Bull. Na França, conhece uma garota por quem se apaixona. Ele não fala francês, ela não fala inglês. É uma situação ideal para o humor do cinema mudo e para que os dois se entendam de forma menos complicada.

Gilbert, um pouco como Buster Keaton, consegue transmitir no rosto qualquer linha de raciocínio sem que grandes exageros expressivos sejam necessários. Seu timing cômico é perfeito e sua atuação ofusca as demais, inclusive a da francesa Renée Adorée. Há também, em The Big Parade, algo que era característico das obras de Keaton: o desdém pelo melodrama. Quando Jim e sua amada precisam se separar, ele lança a ela o seu relógio, a sua corrente, o seu sapato – fazendo graça do exagero inconsciente do ridículo que é típico do melodrama. Até esse momento, tudo é leve e engraçado. A guerra, afinal, não parece tão ruim assim – até Jim chegar ao front de batalha.

Vidor queria mostrar a guerra de forma realista, sem grandes conquistas, mas com grandes custos tanto para os “vencedores” como para os “perdedores”. No front, há uma caminhada quase que infindável, em que os soldados americanos precisam lidar com atiradores, metralhadoras, canhões… Alguns vão caindo mortos pelo caminho, sem mais nem menos, mas a linha de frente não pode parar. O absurdo da situação é chocante e torcemos para que Jim e seus amigos sobrevivam de alguma forma.

O horror que as cenas de guerra causam no espectador se dá por conta da leveza com que tudo ia sendo encarado até então. Afinal, ninguém sabia o que ia encontrar quando, num arroubo qualquer, resolveu se juntar ao exército. Hoje em dia, depois de tantos filmes, de tantas guerras (e de tantas guerras televisionadas), já temos uma noção, ainda que mínima, de quão aterrorizante pode ser. Naquela época, contudo, houve mesmo uma sensação de perda. Jim, como tantos outros, jamais seria o mesmo depois do que presenciou, especialmente depois de encarar o inimigo e ver alguém como ele mesmo.

O filme é convencional no que diz respeito ao posicionamento de câmera ou na forma de narrar a história (tanto Napoleon, de Abel Gance, como Wings, de Wellman são mais inovadores nesse sentido), mas foi o primeiro a mostrar a guerra de tal forma, causando um choque bastante interessante pela mistura de comédia e drama (sem confundir com melodrama) e com uma atuação excelente do jovem John Gilbert.